terça-feira, 17 de agosto de 2010

Animação brasileira para exportação

Produtoras nacionais mudam o eixo e assumem o processo criativo de séries

Guss de Lucca, iG São Paulo | 17/08/2010 11:18

Foto: Divulgação

Os cinco cachorrinhos que protagonizam a séria animada Escola pra Cachorro

Quantas séries de desenhos animados exibidos no Brasil nas últimas décadas foram feitas no país? Quem respondeu nenhuma cometeu um legítimo engano. Algumas animações feitas para a TV e poucas para o cinema tiveram atuação de profissionais brasileiros em seu processo braçal.

O longa-metragem de animação A Princesa e o Sapo, lançado em 2009 como uma retomada da Disney aos filmes em 2D, é um exemplo dessa realidade - diversas partes de sua produção, como as etapas de interpolação (movimentos intermediários), clean up (traço final) e composição digital foram feitas pelo estúdio HGN Produções, localizado na cidade de São Paulo - que já havia trabalhado na série animada do personagem Alladin.

Mesmo assim, das animações exibidas no país, raríssimas contaram com uma equipe brasileira em seu processo inicial, que consiste na criação dos personagens e histórias, além do desenvolvimento de roteiros - uma situação que começou a mudar nos últimos anos.

Enquanto o animador brasileiro Carlos Saldanha, diretor dos longas A Era do Gelo 2 e A Era do Gelo 3, emplaca dentro dos estúdios da 20th Century Fox a animação Rio, que usa como cenário a cidade do Rio de Janeiro, produtoras nacionais começam a despejar no mercado séries de TV criadas no Brasil, resultado de um movimento curioso que deve dar cores novas aos desenhos veiculados no país.

Foto: Divulgação

Personagens da animação Rio, de Carlos Saldanha

A série animada Escola para Cachorros, exibida no Brasil pela TV Cultura e na América Latina pela Nickelodeon, é um exemplo dessa mudança de eixo. Criada dentro da produtora Mixer, a animação vem conquistando seu espaço em outros mercados e já está com uma segunda temporada em andamento.

"Não existe essa cultura de marcas de animações no Brasil. As emissoras compram a custos baixos o direito de exibição, mas não ganham nada com os royaltys dos personagens. Quem não gostaria de ser sócio do Bob Esponja?", questiona o diretor executivo da Mixer, Tiago Melo, salientando a busca por uma mudança nesse mercado.

Para isso, foi necessário um investimento visando a profissionalização dos envolvidos, cujo trabalho carece em média de 80 pessoas por temporada entre roteiristas, desenhistas, animadores e dubladores. "Há cinco anos viajamos para o Canadá com o intuito de entender o processo de produção de um desenho. Esse aprendizado foi essencial para compreendermos a dimensão desse tipo de projeto", conta.

Nesse período de análise os brasileiros perceberam que além de inexplorado, o mercado de séries animadas é composto por parcerias entre países, pois o custo de uma produção desse tipo é deveras elevado - a grande exceção da regra são os Estados Unidos.

"Nos Estados Unidos existem empresas como Cartoon Network, Nickelodeon e Disney, que além de produtoras são canais de TV que operam no maior mercado do mundo e em outros mercados. Quando eles criam uma série, sabem que conseguem viabilizá-la no próprio país e ainda lucram no mundo inteiro", diz André Breitman, produtor executivo da série Meu AmigãoZão, assinada pelo estúdio 2D Lab e exibida no Brasil e na América Latina pelo Discovery Kids.

Com o mercado norte-americano fechado em si, outros países firmaram alianças para a criação de co-produções, e destes o Canadá acabou tornando-se parceiro do Brasil por fatores diversos, como a língua inglesa, que é de fácil acesso, e um acordo comercial firmado entre os países que permite esse tipo de criação conjunta.

Foto: Divulgação

As três crianças da série animada Meu AmigãoZão junto com seus colegas animais

"O Canadá sempre se coligou com outros países e por isso circula bem no mercado internacional. E a aproximação com o Brasil foi facilitada por um movimento que ocorreu na União Europeia, que acabou se fechando em produções próprias", explica Tiago.

Mas a ajuda nesse período de aprendizado não ocorreu apenas no exterior. O colaboracionismo parece ser parte dessa guinada. De acordo com Tiago, essa nova geração de animadores brasileiros tem como marca o respeito mútuo - e quem confirma esse espírito de cooperação é André. "Tivemos que nos vender como produtores de um país que não tinha experiência nesse mercado. Foi uma venda difícil, mas ao longo desses anos criamos lá fora quase que uma entidade nossa: the brazillians", relata.

No momento tanto a Mixer quanto a 2D Lab engatilham novos projetos na área, e a exibição das animações Escola para Cachorros e Meu AmigãoZão no Brasil e América Latina são reflexo de um esforço que deve marcar a entrada definitiva da "pátria de chuteiras" no circuito mundial das séries animadas.

Escola para Cachorros:

TV Cultura
segunda a sexta, 10h30/15h45
sábado, 15h45, e domingo, 12h00

Nicklodeon
segunda a sexta, 09h00

Meu AmigãoZão:

Discovery Kids
segunda a sexta, 12h30

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